segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Metallica: Destruidor, old school e traumático




A cidade de São Paulo teve um dia atípico para uma tarde/noite de verão. Levando em conta os últimos 40 dias de chuvas, alagamentos e tumulto, tudo o que o paulistano queria naquele sábado era poder ter um dia sem esses problemas. Um dia perfeito. Foi o meu caso e o de 68 mil almas presentes no Estádio do Morumbi, que acompanharam a apresentação do Metallica.

Depois de 11 anos sem pisar na capital bandeirante, James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammett e Robert Trujillo pareciam adolescentes em cima daquele palco. Tamanho carisma e emoção se encaixavam perfeitamente com o peso e brutalidade das músicas ali apresentadas. Um setlist absolutamente old school e destruidor, que foi capaz de compensar os anos de ausência dos quatro cavaleiros do metal.


Logo após a apresentação do Sepultura, que cá entre nós foi muito boa, as luzes do estádio se acenderam e os roadies do Metallica começaram a preparar tudo para o início do show. Ainda estávamos nos recuperando dos clássicos tocados por Andréas Kisser e sua trupe, que mandaram bem com Refuse/Resist; Territory; Inner Self e Roots Bloddy Roots. Já impacientes, começávamos a especular as músicas que seriam tocadas. Eu estava preparado para tudo.


Quando as luzes se apagaram e o hino The Ectasy of Gold começou a tocar, eu tinha certeza de que o meu coração ia saltar e eu iria chorar feito uma criança. Nada disso aconteceu quando os meus heróis entraram em cena e despejaram todo o peso e velocidade de Creeping Death. Ao ver James levantar as suas mãos e fazer o sinal característico do metal, estava certo de que era o momento de acordar e cantar junto com ele, palavra por palavra, a música que fala de escravidão e penitência. Escravos somos nós desse som que entra em nossas mentes e faz com que a besta adormecida em nós saia e interaja com eles.


O coro “die, die, die” foi feito com o máximo de paixão por todos ali presentes, e talvez, esse é um dos momentos que fazem o fã brasileiro ser diferente dos demais.

Em For Whom The Bell Tolls e The Four Horsemen, o público foi ao delírio e pode presenciar a felicidade dos quatro em estar no Brasil. Não era à toa. As músicas eram cantadas em uníssono, e quase não se dava pra ouvir o vocal de Hetfield. Kirk esmerilhou em seus solos. Absolutamente perfeitos. Robert, irreverente. E Ulrich, o chatão, a todo momento tentava interagir com o público, mesmo de trás do seu kit de bateria.


A melancólica e arrastada Harvester of Sorrow deu uma acalmada no público, mas foi tão bem aceita quanto as demais e foi cantada integralmente por todos. Depois de uma breve pausa, Hetfield apareceu com um violão. Não sabíamos o que esperar... The Unforgiven? Mama Said?? Não. A mais triste e sensível música do Metallica estava recebendo os seus primeiros acordes. Sereno, Hetfield começara a tocar Fade to Black, do álbum oitentista Ride The Lightning. O que se percebia era público e banda se tornando um só, compartilhando suas tristezas e mágoas naqueles seis minutos e meio.


As músicas novas do Metallica couberam perfeitamente nesse set. That Was Just Your Life, The End of The Line e The Day That Never Comes pareciam ter sido escritas na época trash da bay area. É óbvio que elas não foram tão cantadas e aclamadas quanto os clássicos, mas os comentários que se ouviam eram os melhores possíveis, inclusive, dos senhores de cabelos brancos, que estavam ali para ver se achavam os moleques que tocaram aqui em 1989.

Antes de Sad But True, James ofereceu-a para o Sepultura, dizendo: “Nós dedicamos essa música ao Sepultura. Pois eles representam a música pesada no Brasil e nós sabemos que o brasileiro ama música pesada. Vocês querem mais peso? Então nós daremos mais peso”, e o riff grudento e pesado do cláassico de 1991 começou a balançar o estádio.

Mais uma dedicatória, desta vez, aos fãs, à família Metallica, como James disse. “Quero dedicar essa música a vocês, à família Metallica. Que nos apoiaram nos momentos difíceis e nos momentos bons, como esse de hoje”, já emendando o refrão de Broken, Beat & Scarred: “WHAT DON’T KILL’YA MAKE YOU MORE STRONG”.


Todo e qualquer elogio à performance da banda é chover no molhado. O entrosamento e a harmonia em tocar são claros. Kirk é muito introspectivo, mas quando se põe a solar, domina o palco. Robert é energia pura e Ulrich bate em sua bateria como se fosse em um inimigo. James Hetfield expõe a sua idade somente na falta de cabelo e em suas barbas brancas, pois ele executa seus riffs de forma magistral e impõe um respeito quase que inexplicável, difícil, mesmo pros fãs, de se descrever.


A sequência pela qual estávamos prestes a presenciar não é pra qualquer um. Quando os fogos começaram a estourar e labaredas a subir, era o prenúncio para a explosiva One, executada como nos tempos áureos de And Justice For All. Sem tempo para respirar, já recebemos Master of Puppets, que quase nem precisou ser cantada por James. O público se encarregou disso. Já sem voz, as pessoas tiveram que tirar energia das suas almas para poder acompanhar Blackened e suar a cada vez que James dizia “Fire”, e sentir o bafo quente do fogo que subia ao lado do palco.


Ao fim dessa música, James pediu um pouco de atenção e apontou para Kirk, que por sua vez, dedilhou um solo de guitarra limpa maravilhoso, limpo e extremamente dedicado. Era a introdução para Nothing Else Matters. Todas as pessoas que estavam ali. Staff, vendedores de cerveja e salgadinhos. Mulheres, adolescentes, senhores e jovens... todos cantaram junto com James. Um momento épico e que ficou marcado. Com a voz embriagada de emoção, James finalizou a música com o solo característico e ficou agachado por ali durante um minuto. A câmera focalizava as suas mãos. Ele, por sua vez, arrancou gargalhadas dos presentes mostrando-nos o dedo do meio e fazendo o sinal do metal. Pra que, minha gente? Para iniciar Enter Sandman e ver as 68 mil pessoas ali presentes pularem juntas.


Não consigo explicar como uma música ta simples pode fazer isso com as pessoas. Só mesmo estando ali pra saber...

Depois dessa música, foram feitos breves agradecimentos. Kirk, no seu raro momento de interação com o público, sacou o seu smartfone do bolso e começou a filmar o estádio. Em diversas entrevistas, ele afirma que o público brasileiro é o melhor, o mais animado.

Para o bis, boa escolhas: Stone Cold Crazy, do Queen e Motorbreath, do primeiro álbum do Metallica, Kill’em All.


Depois desses dois pitacos, James olhou atentamente para o palco. Todos já sabiam o que iria acontecer ali, mas, foi necessária essa troca de olhares. “Eu gostaria de dizer que eu estou me sentindo muito bem aqui. Por favor, acendam as luzes da casa. Vocês viram esses feiosos a noite inteira, agora é a nossa vez de vez vocês.” Ao se acenderem os refletores James e companhia puderam ter noção do “estrago” que fizeram. Viram um Morumbi abarrotado de gente. Aquilo, com certeza, foi o combustível para a aclamada Seek and Destroy. Sem misericórdia, os quatro mandaram ver, e, num ato de reciprocidade plena, os fãs fizeram o mesmo, cantando palavra por palavra.


Ao fim do show, um por um agradeceu o público. A sensação que ficou foi de depressão. Um trauma. Como disse Ulrich: “Não é necessário esperar mais 11 “fucking” anos para voltar pra cá, não é?”


Detalhes:


Público de 60% Homens, 40% mulheres.


Metaleiras são gatas, ao contrário do que dizem.


Na coletiva de imprensa, a banda recebeu disco de ouro, pela venda de 40 mil cópias do disco Death Magnetic e disco de platina duplo pela venda de 60 mil cópias do DVD Orgulho, Paixão e Glória.


Setlist:

Creeping Death
For Whom The Bell Tolls
The Four Horsemen
Harvester Of Sorrow
Fade To Black
That Was Just Your Life
The End Of The Line
The Day That Never Comes
Sad But True
Broken, Beat and Scarred
One
Master Of Puppets
Blackened
Nothing Else Matters
Enter Sandman
- - - - - - - -
Stone Cold Crazy
Motorbreath

Seek And Destroy


Público – 68 mil pagantes, mais uma renca de bicões.

2 comentários:

Helder. disse...

E pensar que eu QUASE fui de ultimaa hora.

Mas muito bom o texto. Mas gostaria de te-lo visto de maneira mais "fanatica" hahahaha

Madame Lucy disse...

Olá

Meus parabéns pela sua reportagem. Fui aos dois shows do Metallica em São Paulo e só vc conseguiu retratar a real sensação que um show desse proporciona as pessoas. Foi duro ver como a grande imprensa noticiou o fato de maneira superficial. Abraços
Juliana Paiva - repórter/editora Rádio CBN