sábado, 14 de maio de 2011

O legado do "Churrasco Diferenciado"




Um sábado típico de outono nos convida a ficar em casa, curtir uma boa comida, um sofá, um edredon... enfim, coisas tranquilas e nada de preocupação ao alcance dos olhos. Pra falar a verdade, hoje, ao acordar às sete da matina para ir ao meu curso de italiano, eu sabia que o meu sábado não seria tão tranquilo assim. Pelo contrário, ele me reservava uma das manifestações populares mais qualificadas e úteis deste País.

Por volta das 14h, cerca de mil pessoas aglomeraram-se de fronte ao Shopping Pátio Higienópolis para o protesto intitulado "Churrascão da Gente Diferenciada", que fora direcionado aos 3.500 moradores que assinaram a famosa petição contra a construção de uma estação de Metrô na esquina da Avenida Angélica com a Rua Sergipe. Como se não bastasse a tal petição, um comunicado foi divulgado alegando os motivos pelos quais os moradores não aceitariam o empreendimento, rotulando possíveis usuários de "pessoas diferenciadas", num claro tom preconceituoso.

Bom, chega "nariz de cera" e vamos ao que interessa: O Churrascão!

Cheguei por volta das 14 horas, que foi o horário marcado pelo organizador do movimento, o jornalista Danilo Saraiva. O local original do encontro seria na própria entrada do shopping, mas, por motivos de segurança o início da manifestação foi transferido para a Praça Vilaboim. Porém, eu, como muitos outros curiosos, ficaram no Shopping Higienópolis apenas esperando o restante das pessoas. No geral, estudantes e moradores de outros bairros próximos.

Conversei com uma moradora local, Maria Thereza, aposentada, e que é a favor da construção deste e de outras estações em quaisquer lugares. "Sou à favor das estações. Seria de grande ajuda para as pessoas que trabalham e moram por aqui. O problema, a meu ver, foi o tom do comunicado lançado pela associação dos moradores. Isso não se faz", pondera a aposentada, que se diz de "classe A", mas que clama pelo transporte de qualidade na sua região.



Outra entrevistada foi uma senhora que mora nas imediações do estádio do Pacaembu. Ela não quis se identificar, por segurança, mas, eu a descreveria como a "típica perua burguesa que gosta dos pobres". "Para mim o metrô é indiferente, mas, veja só: eu gasto cerca de R$ 12 de taxi para vir pra cá. Se eu tivesse o metrô na Praça Charles Muller, por exemplo, você não acha que eu o usaria para gastar só uns R$ 6?", indagou-me.

Duas moradoras que se sentiriam beneficiadas pelo transporte de qualidade nas imediações de seus lares.

Obviamente eu procurei alguém que fosse contra a estação, mas não encontrei. Conversando com outras pessoas, inclusive frequentadores assíduos do Shopping, casos de bassets, beagles, labradores, pastores e poodles, pude perceber uma comoção geral com as manifestações. Os tiozões só aproveitando para tirar fotos com as beldades de higienópolis com a famosa cara de "eu estive lá", também puderam ser apreciadas.

Por sorte, vendo o meu anseio, um rapaz se aproximou e disse que queria expor a sua opinião para esse humilde blog. Seu nome é Frederico Sosnowski, estudante de Engenharia de Transportes Terrestres da Fatec, de Barurei.

Ele foi tachativo: "Precisamos dessa e de muitas outras estações". Isso todo mundo sabe. Mas ele, como estudante "da causa", falou com propriedade e citou exemplos de cidades de poderio econômico muito abaixo do nosso, como Santiago, La Paz, Curitiba e Cidade do México, e que tem sistemas de transporte considerados modelo.



"Curitiba tem o sistema copiado por vários países e cidades do mundo. Nós, que estamos aqui do lado, não demos nem uma olhada por lá pra tentar aprender. Claro, nossa cidade tem proporções maiores em tudo, mas se lá deu certo, por que aqui não daria?", disse Sosnowski.

Pude conversar, também, com um funcionário do Shopping, que trabalha em uma das empresas de alimentação, o cozinheiro Felipe Alécio. Ele conta que seria de muito bom grado o metrô por lá, já que ele mora na Avenida 9 de Julho e metrô ali é o que não falta. "Para mim seria uma maravilha! Eu viria trabalhar com muito mais facilidade", enfatiza.

Os moradores do bairro foram, digamos, bovinos em suas argumentações contra o Metrô. Poderiam ter dito que as obras abalariam as estruturas dos prédios da regíão, que na maioria são antigos. Ou poderiam reclamar do barulho, da poluição... enfim, N coisas, menos das "pessoas diferenciadas" que circulariam por ali.

Falar de camelódromo? Pra quem conhece aquele pedaço, NÃO TEM ESPAÇO pra camelô trabalhar. E outra: quem mora ali faz compra em camelô? Se fosse assim, a Oscar Freire estaria cheio deles.

Hoje, esses pouco mais de mil pessoas fizeram história. Num mundo onde tudo é preconceito, tudo é proibido, os mais de 50 mil que se manifestaram via facebook, além de mostrar a força das redes sociais, mostraram que é possível se manifestar contra as injustiças da sociedade com muita criatividade, humor, e sem balas de borracha. Os policiais só tiveram problema com o trânsito e com os cachorros, porque de resto, foi tudo uma grande festa da democracia.



Fazia alguns anos que eu não ia a higienópolis. O bairro é mesmo lindo, mas algumas pessoas de lá, só de pensar, me dão nojo. Não valem nem a merda que seus cães cagam, inclusive nos arredores do shopping, um dos poucos do mundo onde os pequenos cães podem entrar sem qualquer problema.

Espero que mais esse capítulo da cidade sirva para a reflexão dos nossos governantes e cidadãos. A cidade PRECISA de metrô. Precisa de união. E precisa que nós tenhamos vontade para que isso tudo aconteça. Hoje foram mil pessoas. Quem sabe um dia possam ser as mais de 11 milhões que vivem na cidade mais pujante do mundo.

NOTA NEGATIVA: Eu não poderia deixar de destacar a presença de alguns membros do Sindicato dos Metroviários e São Paulo, que, muito oportunistas, começaram a fazer os seus cânticos não para ter mais metrô, mas sim, para aumentarmos os seus salários. Ora, caros metroviários, vocês trabalham muito pouco e ganham muito pra ficarem reclamando. Quer mais salário? Trabalhe mais do que as míseras 4 horas diárias.

MAIS UM DESTAQUE POSITIVO: A adesão da famosa carreata das bicicletas, também oportunista, mas que contribuiu para a boa qualidade das manifestações. Renata Falzoni estava por lá.



Agradeço aos entrevistados e ao meu grande amigo Tiago Mesquita (https://www.facebook.com/profile.php?id=1187238743) pelas belíssimas fotos tiradas hoje.

Visitem o meu Facebook para verem todas as fotos do evento. (www.facebook.com/feliperocharibeiro)

3 comentários:

Tiago M disse...

Manjou forte meu caro, belo texto.
A força dos diferenciados vive...

Divided we're nothing - United we're breaking

Anônimo disse...

Parabéns a todos, foi muito bom!

Nos deslocamos de Bike pelas ruas da região da Av. Paulista até o ponto de concentração (em frente ao Shopping), lá em uma só massa todos se pronunciaram, exporam seu ponto de vista e ainda debateram de forma pacifica o motivo de tudo isso.
Ficou óbvio a todos que "a grande maioria" esta que constituída... de moradores, seguranças, pessoas que trabalham por lá, e até mesmo policiais dividiam a mesma opinião... "Metrô sim!, pq não?".
Tudo correu bem, houveram sim aqueles que manifestaram sua idéia contra o projeto, e nem por isso houve desavenças ou algo mais violento, ao contrário de que alguns que no seu mundinho egoísta e individualista esperavam tudo correu muito bem...
Parabéns a todos que compareceram e se mobilizaram, independente se vieram ou não todos tiveram sua parcela para que fosse da forma que foi, justo...
Agora sim prevaleceu o Bom senso, o senso da razão e da Democracia!

Grande abraço a todos!!!

Walquirya disse...
Este comentário foi removido pelo autor.